Isto são histórias que vêm do passado e que nos chegam até hoje graças à velha tradição de passar as histórias e feitos de um povo de pai para filho. São portanto histórias mas no meio delas existe uma certeza; se não é de origem romana, pelo menos a sua romanização, os romanos chegaram, viveram, passaram e deixaram rasto. Atestam-no as duas vias calcetadas que davam acesso a povoação pelo lado Sul e, sobre tudo, as três pontes de sólida arquitectura, uma delas bastante visitada por quem mergulha na aldeia.
Vilarinho das Furnas era constituída por um aglomerado de casas graníticas, alinhadas umas pelas outras, formando ruelas sinuosas. As casas de habitação compunham-se geralmente de dois pisos sobrepostos e independentes: - uma loja térrea, destinada aos gados e guarda de alfaias e produtos agricultas; e um primeiro andar para habitação propriamente dita, onde ficavam a cozinha e os quartos. O mobiliário era simples e modesto. Alguns objectos como louças, candeias, talheres, lanternas, etc., eram comprados nas feiras ou a vendedores ambulantes que passavam pela povoação mais ou menos regularmente. Outros eram de fabrico caseiro como as arcas, camas de madeira, raramente ornamentadas com motivos religiosos, as mesas e os bancos, além da quase totalidade dos artigos de vestuário. A iluminação nocturna era feita com uma variedade de candeias e candeeiros de recipiente fechado, que funcionavam a petróleo, com gordura animal ou azeite, quando aquele escasseava por alturas da guerra.
Todos os habitantes de Vilarinho das Furnas, ai residentes, praticavam a religião católica, sendo motivo de forte critica por parte dos outros e o eventual não cumprimento dos deveres religiosos. O povo de Vilarinho, além do acatamento das leis vigentes do seu País, tinha também as suas leis internas que eram respeitadas e, escrupulosamente cumpridas. Para isso havia uma junta que era composta por um Zelador (antigamente Juiz acompanhado por seis membros). Para esta assembleia dos seis podiam ser eleitos os chefes de família, tanto homens como mulheres, estas nessa qualidade, quando em estado de viuvez ou ausência do marido, devido à emigração. O sexo feminino podia eleger e assistir às reuniões da Junta, porém, nunca podia ser escolhido para o alto cargo de Zelador, pois a nomeação deste era feita de entre os homens casados, por ordem cronológica do consórcio.As eleições para a escolha dos Seis e substituição do Zelador eram realizadas de seis em seis meses. Os Seis que cessavam as funções, transmitiriam aos sucessores, na presença do novo Zelador e do Zelador cessante, os assuntos pendentes e o dinheiro em cofre.
Em tempos, o Zelador antes do início da reunião, jurava sobre os Santos Evangelhos e, no acto da sua posse, impunhava a vara das cinco chagas, jurando, assim, obediência a todos os vizinhos.
A Junta reunia, normalmente, todas as quintas-feiras. Para isso o Zelador, ao raiar da aurora, tocava uma buzina (búzio) ou um corno de boi, chamando os componentes da Junta. Ao findar o terceiro toque, espaçadamente, dirigia-se para o largo de Vilarinho, levando uma caixa onde se encontravam as folhas da lei. Seguidamente, o Zelador procedia à chamada, aplicando aos faltosos uma "condenação” de 50 centavos, a não ser que uma pessoa de família comparecesse justificando o motivo da ausência. Porém, aqueles que faltassem todo o dia sem apresentar qualquer justificação, eram condenados a pagar 5$00. A reunião da parte da tarde não se realizava no largo da aldeia, mas, sim, junto aos campos, na ponte romana sobre o rio Homem. Era nestas assembleias que se determinava os trabalhos a realizar e as condenações a aplicar. Depois de todos terem discutido os vários assuntos respeitantes à vida da aldeia, os seis reuniam-se para deliberarem, vencendo sempre a maioria e tendo o Zelador voto de qualidade. Os assuntos principais incidiam sobre a construção e reparação dos caminhos, muros e pontes de serventia comum, a organização pastoril, organização dos trabalhos agrícolas (malhadas, desfolhadas, vindimas, roçadas, etc.) e, ainda, a distribuição das águas das regas, etc.
As atribuições do Zelador eram tais, que poderia, em caso muito grave, expulsar o vizinho, isto é, margina-lo totalmente da vida social e sistema comunitário. Ele era também o Juiz de todos os crimes, com excepção para o homicídio por ser da competência dos tribunais. Havia um puro sentimento de solidariedade que envolvia este povo e a sua força de unidade, traduzia-se no lema de todos por todos. Muito haveria a dizer do regime comunitário de Vilarinho, um povo que deixou a todos nós, uma história e um exemplo. O espectro da barragem começou a pairar sobre a população como um abutre esfaimado. A companhia construtora da barragem chegou, montou os sues arraiais e meteu mãos á obra. Esta surge progressiva e implacável. O êxodo do povo de Vilarinho pode localizar-se entre Setembro de 1969 e Outubro 1970, quando na aldeia foram afixados os editais a marcar o tapamento da barragem. De um ano dispuseram pois, os habitantes de Vilarinho para fazer os seus planos, procurar novas terras e proceder á transferencia dos seus móveis.
As 57 famílias que habitavam esta povoação, estão agora dispersos pelas mais variadas terras dos concelhos de Braga.
Da vida e recantos da aldeia comunitária não resta mais que um sonho. Sonho que é continuado no Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, construído com as próprias pedras da aldeia.
A barragem de Vilarinho da Furna foi inaugurada em 21 de Maio 1972 pondo fim à última aldeia comunitária em Portugal.
Após 67 minutos de imersão viemos dar novamente à margem norte, a aproximadamente 15 metros do local de entrada e onde se encontravam os nossos filhos a tomar banho sob o olhar atento da Diva, mulher do Delfim. Comentários entre nós: "Que belo mergulho" - "É este o programa que vou fazer com o meu amigo alemão em Setembro" - "Eu também venho..." :) Foi realmente um excelente mergulho.
O dia não estava completo sem o almoço na Residêncial Manuel Pires. A residêncial situa-se em Vilar da Veiga, junto à estrada que liga as pontes do Rio Caldo à vila do Gerês. Recomendo muitissimo este local para um fim de semana, férias ou mesmo um almoço - telef 253 391 139. Muito tenho também que agradecer aquela família por aturar os excessos de um mergulhador. Para variar fomos almoçar tarde e a más horas, eram quase 16h quando nos sentamos à mesa e 17h30 quando nos levantamos. De seguida rumamos à Portela do Homem para um banho no rio Homem. O dia estava de tal forma excelente que eram 19h30 e ainda estavamos de "molho" nas frescas águas do rio.
Deixamos o Gerês às 20h30 com a ideia de repetir novamente o mesmo programa em finais de Setembro.... ou antes caso o mar continue a não nos deixar mergulhar....
1 comentário:
Excelente visibilidade!!!
Infelizmente não pude ir.
João Castro
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